Veja a matéria da Dra. Flávia Saad sobre rações para cães e gatos.
Nós, nutricionistas e pesquisadores, temos vários critérios para avaliar a qualidade de uma ração para cães ou gatos, como, por exemplo, avaliação criteriosas de rotulagem até testes de digestibilidade e desempenho. Entretanto, para os proprietários, torna-se difícil, diante de tantos produtos, decidir qual é o que melhor se adéqua as necessidades de seu animal. Mas o primeiro ponto a ser considerado é a idade do animal. È importante escolher um alimento indicado para a etapa fisiológica que seu animal está vivendo. Isto significa que sim, você deve dar para os filhotes alimentos devidamente formulados para animais em crescimento, assim como deve oferecer a um animal adulto alimentos com indicação específica para eles. Dar ração de filhotes a animais adultos ou vice-versa, pode comprometer a saúde de seus animais.
Entretanto, mesmo escolhendo produtos indicado para cada idade, ainda restam muitas dúvidas pelo proprietário. Será que a ração escolhida, diante de tantas opções, é o alimento certo? Será que meu cão está respondendo satisfatoriamente ao produto?
Então, sempre coloco o seguinte: o melhor critério para avaliação é a observação do próprio animal. Mesmo porque existem vários fatores individuais. Uma ração pode ser excelente sob o ponto de vista nutricional e o animal não se adaptar a ela.
Sendo assim, alguns pontos podem ser observados:
1- A qualidade das fezes é sempre importante.
Uma boa ração não pode deixar as fezes pastosas. Descartada a possibilidade de doenças, se isto estiver acontecendo, é sinal que algo não está bem nutricionalmente. Pode ser excesso de fibras insolúveis, má qualidade de ingredientes, etc. As fezes também não podem ser em grande volume (e se desfazendo facilmente). Isto também indica indigestibilidade dos nutrientes.
Um excesso de carboidratos na dieta leva a uma fermentação lática acentuada e as fezes apresentam-se pastosas com coloração clara e cheiro ácido (sem cheiro de podre).
As fezes têm que ser bem formadas, em pequeno volume, consistentes, porém macias. Não podem ser ressecadas. Fezes ressecadas indicam grande absorção e trânsito intestinal lento, além de pouca quantidade de fibras insolúveis. As fibras não devem estar em excesso, mas são importantes para a motilidade intestinal e prevenção de câncer de intestino.
O cheiro é importante também. As fezes não podem ter cheiro de podre. Isto significa que a proteína não foi bem digerida. Neste caso observam-se fezes bem escuras e às vezes pastosas, mas nem sempre.
Mas um pouco de cheiro sempre tem. Fezes com nenhum cheiro não existe. Nem as rações indoor, que utilizam fitoextratos (como, por exemplo, o extrato de Yucca schidigera) ou sequestrante de odores (como as zeólitas) são completamente livres de odores.
2 – A qualidade do pêlo reflete muito a dieta
Uma dieta saudável reflete em pêlo brilhante e resistente. Pêlo quebradiço, caindo demais generalizadamente (alopecias localizadas são indicativos de outras enfermidades) sem causa definida, normalmente liga a luz de alerta. Deficiências de zinco, deficiências de ácidos graxos (normalmente causados por rações rancificadas devido à má armazenagem), proteínas com perfil aminoacídico desbalanceado etc. podem levar a este quadro.
3- Qualidade da pele
Rações de má qualidade levam a descamação de pele anormal, dermatoses e outros problemas. Boas rações favorecem a qualidade do pêlo, tornando-o brilhante e sedoso. Mesmo as raças que apresentam como característica pelame duro devem receber alimentos de qualidade, caso contrário podem modificar a cor, textura e volume da pelagem. Mas antes de afirmar que é a ração, várias doenças devem ser descartadas.
4- Cheiro do próprio animal.
Animais saudáveis e recebendo rações de boa qualidade não cheiram mal e os banhos freqüentes são completamente dispensáveis. Claro que se o animal se suja muito, deve tomar banhos, mas não em demasia. Se o animal estiver apresentando odores desagradáveis, a primeira medida é consultar um médico veterinário. Otites, problemas de pele, dermatoses, entre outras doenças, podem estar provocando este cheiro ruim. Assim, o cheirinho desagradável pode não ser conseqüência direta da má qualidade de um alimento, entretanto, a utilização deste, a longo prazo, pode diminuir a imunidade de seu animal, propiciando o aparecimento de doenças de pele e provocando o mau odor.
5- Preferências individuais dos animais
Não adianta nada a ração ser maravilhosa nutricionalmente se o animal não gosta dela. Mas atenção, o fato dele gostar muito não indica que ela é boa.
Outro ponto; os animais sempre comem mais que suas necessidades nutricionais quando o alimento é palatável e é novidade. Depois vão diminuindo o consumo até estabelecer um consumo ajustado à suas necessidades energéticas. Aqui vejo muito proprietário achando que o animal enjoou da ração e trocando por outra. Isto pode levar à quadros de obesidade. Mesmo que você ache que ele está comendo pouco, observe o aspecto geral do animal. Perdeu peso, está apático, pêlo sem brilho, fezes pastosas? Não? Então ele está comendo o correto.
Um animal saudável apresenta escore corporal adequado; costelas, espinha dorsal não visível, mas facilmente palpável. Pequenas quantidades de gordura palpáveis na caixa torácica. Cintura e dobra abdominal visíveis e ausência de depósitos de gordura na espinha e na base da cauda.
6. Avaliação do produto em si
Conteúdo de energia metabolizável – a maioria das rações fornece este dado no rótulo e esta informação é muito importante para o cálculo do consumo de alimentos e nutrientes. A preferência vai para fabricantes que apresentem este dado na embalagem. Fuja daqueles que não a fornecem.
Preço é um fator importante. O ideal seria a avaliação do custo da alimentação diária, baseando-se no consumo de energia ou, no mínimo, custo do quilograma de nutrientes na base seca. A ração não precisa ser caríssima, mas rações extremamente baratas, mesmo atendendo as especificações mínimas de necessidades nutricionais, não vão propiciar ao animal uma nutrição ótima. Rações muito baratas utilizam poucos ingredientes, igualmente baratos e de baixo valor nutricional. Costumam utilizar co produtos vegetais em demasia e pouca proteína de origem animal, o que interfere na quantidade final de proteína que o animal absorve.
Mas um ponto é certo. O melhor produto não é aquele mais caro e sim aquele que melhor se adéqua ao seu animal e cabe no seu orçamento. Se um animal come restos de comida, completamente desbalanceado e passa a receber um alimento balanceado, mesmo não sendo o mais caro, certamente terá benefícios nutricionais visíveis.
Reputação do fabricante Subjetivo, mas muitas vezes eficaz. Avaliar se a empresa tem boa reputação nacional e internacionalmente, preocupação em conhecer e pesquisar sobre nutrição. A inclusão de dados na embalagem sobre digestibilidade e energia metabolizável são bons indícios, assim como telefone para sugestões e reclamações sobre o produto.
Aparência e odor do alimento. Mesmo não sendo o odor que mais agrada aos humanos, alimentos para cães e gatos devem cheirar bem, não podem ter odores desagradáveis, como de ranço ou de putrefação. Os grãos da ração devem ser uniformes, lisos e crocantes. Grande quantidade de resíduos e farelos no fundo do saco significa que o processamento industrial não foi correto.
Mudanças na coloração da ração podem ocorrer em alimentos mais baratos, onde os fabricantes utilizam ingredientes diferentes de acordo com a oferta ou safra e não significam que o produto está estragado ou com data de validade vencida, entretanto é importante ressaltar que dificilmente isto ocorre em produtos de alta qualidade, onde a quantidade de matéria prima é fixa.
Alimento coloridinho pode até ser bonitinho, mas procure atentar se a cor não é muito forte e artificial. Os melhores produtos são aqueles que contêm corantes naturais e esta informação está presente na embalagem.
Rotulagem: Leia sempre o rótulo do alimento. Ele tem informações importantes sobre a quantidade de nutrientes, os ingredientes utilizados, o modo de administrar. Normalmente as quantidades indicadas são orientativas, mas isto não significa que seu animal vá comer exatamente a quantidade indicada. Se ele apresentar perda de peso leve, as quantidades devem ser aumentadas. Ao contrário, se ele estiver ganhando peso fora das fases de crescimento ou gestação, significa que você pode estar dando mais alimento que ele realmente precisa para manter uma boa condição corporal.
É importante que as fontes dos nutrientes sejam da mais alta qualidade, de modo a oferecer a maior digestibilidade possível dos nutrientes. Rações que contem farinha de penas, farinha de sangue, etc, não tem boa digestibilidade nem bom perfil de aminoácidos.
Do mesmo modo, procure observar se o produto contém ingredientes que favorecem a saúde e longevidade de seu animal. Ingredientes como óleos de peixe, que contêm Ômega 3, promovem uma boa saúde do pêlo e da pele, prebióticos como frutoligossacarídeos e mananoligosacarrídeos favorecem a saúde intestinal, antioxidantes naturais e polifenóis diminuem a formação de radicais livres celulares etc.
Nunca compre ou ofereça ao seu animal produtos com data de validade vencida, assim como nunca compre produtos com embalagem aberta, rasgada, molhada ou desbotada. Observe se o fabricante tem inscrição no ministério da agricultura, que é o órgão que fiscaliza estes alimentos. Sem a inscrição no SIF, o produto não oferece nenhuma garantia de estar dentro das normas recomendadas. Nem é necessário dizer que alimentos comprados a granel, fora de sua embalagem, é um risco desnecessário e podem comprometer a saúde dos animais.
Enfim, a observação de todos estes pontos pode ajudar a encontrar o melhor alimento, aquele mais adequado ao seu animal de estimação e que o proporcione uma vida longa e saudável.
Flávia Maria de Oliveira Borges Saad
Médica Veterinária, MSc., Doutora em Nutrição Animal
Professora de Nutrição de cães e gatos
Universidade Federal de Lavras/MG